Limites à interactividade (e à ideia de 'um novo homem')
Mesmo que a rádio não tenha explorado todas as potencialidades abertas por exemplo pelo uso do telefone, em articulação com a interactividade, a verdade é que a tecnologia não é potenciadora dessa interacção. ao contrário da internet, cujas potencialidades neste capitulo são - tendencialmente - infinitas.
Acontece que o facto de a tecnologia ser tendencialmente interactiva não significa que venha a ser explorada na íntegra. Os utilizadores no limite precisarão de um mediador. e a existencia de um mediador desequilibrará a relação. Poder-se-á falar em consumir-produtor, mas não só nem todos os consumidores serão tambem produtores como poucos serão aqueles que terão uma actividade regular. Ainda assim, nada será como antes. Há uma nova hierarquia, há novo sentido na comunicação, há novas centralidades a intervir, que não a do classico gatekeeper E se antes eram os meios a ignorar - muitas vezes deliberadamente (por exemplo, quantos divulgavam o seu numero de telefone para receber as queixas/contribuições dos ouvintes) - as potencialidades de interacção, neste novo cenário, são os meios (enquanto se estruturarem já não com gatekeepers mas com mediadores) a incentivar/a pedir essa participação. E haverá muitas maneiras de o fazer - de quase 'compelir' o ouvinte a faze-lo. E isso leva a que haja quem entenda que apenas muda o sentido, mas que continuam ser os meios a controlar tudo (ver por exemplo Dênis de Moraes, O Planeta Mídia: tendências da comunicação na era global, Letra Livre Editora, 1998). ou que se acentuarão as desigualdades mediáticas e sociais.
A interactividade é uma moda? «Nas emissoras de TV por assinatura, a tendência da interatividade decepcionou, até o momento, os que apostaram num meio mais democrático do que a TV aberta» (Kischinhevsky, 2007: 80 ). Mas isso só prova que haverá momentos para tudo, que o utilizador não quer ser sempre activo, que quando se senta no sofá quer ver um bom programa, e se isso significar mexer o menos possivel no comando remoto melhor. Os velhos habitos não desaparecerao, coexistirão com os novos (no caso da rádio, será relevante observar outra coisa: até que ponto os velhos habitos despertarão massa critica suficiente para continuarem a ser comercialmente viáveis).
«A indústria terá de apresentar soluções criativas para não perder audiências e/ou telespectadores, cada vez mais sofisticados» (Kischinhevsky, 2007: 81)
«Embora reconheçamos as conquistas desse novo receptor e descartemos a visão reducionista do imperialismo cultural, devemos acompanhar com atenção os movimentos das indústrias da comunicação e do entretenimento, cada vez mais imbricadas. E estas indústrias sofreram, a partir dos anos 80, um processo de concentração sem precedentes, que ameaça a diversidade na oferta de conteúdos» (Kischinhevsky, 2007: 82)
Pode haver outras explicações, mas os grandes planos divulgados na segunda metade da decada de 90 pela empresa WorldSpace para construção de uma rede global de radiodifusão via satélite (envolvendo gigantes japoneses da tecnologia) desapareceram. É que apostar com grandes investimentos em rádios que, embora tenham a vantagem da escala (uma emissão global para todo o planeta) significa recusar as potencialidade de intercação. «(...) a possibilidade de interação dos ouvintes nesse novo rádio digital via satélite é virtualmente nula. Com a defasagem de sinal, aé as formas convencionais de participação - debate ou entrevista ao vivo, por telefone - ficam inviabilizadas. A convergência tecnológica pelo menos de acordo com a visão atual da indústria de radiodifusão, vai de encontro aos ideais de livre difusão da geração podcaster. O que talvez explique sua lenta aceitação» (Kischinhevsky, 2007: 124)
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