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Transistor kills the radio star?

McLuhan, profeta da escuta secundária

Aliás, se há questão recorrente entre os que reflectiram historicamente sobre a essência da transmissão radiofónica é a das suas (alegadas) capacidades visuais.

 

Arnheim lembra, em 1936, que desde o princípio «torna-se uma grande tentação para o ouvinte ‘completar’ com sua própria imaginação o que está ‘faltando’ tão claramente na transmissão radiofónica» (Meditsch: 2005: 62), mas o mesmo autor lembra no seu «Elogio de la ceguera»[1] que:

 

«E, no entanto, nada lhe falta! Pois a essência do rádio consiste justamente em oferecer a totalidade somente por meio sonoro. Não no sentido exterior, de incompletude, segundo a visão naturalista, mas fornecendo a essência de um evento, uma ideia, uma representação. Todo o essencial está lá – e neste sentido um bom programa de rádio é completo. (…) As estátuas não precisam ser pintadas na cor da pele, e um programa de rádio também não precisa se fazer visível».  

 

Trinta anos depois, Marshall McLuhan fala na «linguagem do escuro» (Meditsch, 2005: 148) para reforçar a ideia de que a rádio «possui um manto de invisibilidade, com qualquer outro meio» (idem, 147). O autor canadiano considera mesmo que:

 

«Se sentamos e conversamos no escuro, as palavras de repente adquirem novos significados e texturas diferentes. Tornam-se mais ricas até do que a Arquitetura, que, segundo Le Corbusier, é melhor sentida à noite. Todas as qualidades gestuais que a página impressa elimina na linguagem retornam à linguagem no escuro – e no rádio» (idem, 148).

 

Mais tarde é Crisell que descreve a rádio como um «blind medium» (Crisell, 1994: 3), dizendo mesmo que é essa característica – interpretada como a possibilidade da rádio funcionar como meio secundário – que «(…) strikes everyone, broadcasters and listeners alike, as significant about radio (…)» (ibidem).

 

Finalmente Meditsch, que não considera «a imaginação visual do ouvinte como um componente permanente e necessário na linguagem do rádio»[2]. O mesmo autor pensa que «o rádio pode evocar imagens visuais no ouvinte, mas não só visuais. Nossa memória não é um arquivo de slides, guarda também olfatos, sabores, sensações táteis e melodias. Guarda principalmente nossa compreensão e nossas emoções a respeito dos fatos da vida. A linguagem do rádio evoca facilmente tudo isso»[3]. Meditsch seguirá a ideia de Cebrián Herreros (1994: 19): «La radio constituye un universo de referencias y evocaciones de imagenes, paisajes, sonoridades, sugerencias. La radio se hace imaginación con la voz, paisaje con la música, sonoridad con los efectos y sugerencia con el silencio». Nélia Del Bianco diz que a rádio produz «imagens auditivas» (Meditsch, 2005: 154).



[1] in Estética Radiofónica, Barcelona, Gutavo Gili, 1980

[2] Meditsch, Eduardo, «Sete meias-verdades e um lamentável engano”, 2005

[3] Ibidem

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