Ter 17 anos em Portugal, a 5 de Março de 2007
Duas ideias essenciais neste contexto: a ligação à tecnologia e a capacidade de fazer diversas coisas ao mesmo tempo.
«(...) olhem para eles agora: de umbigo ao léu nos cinco festivais de Verão, a encomendar malas de Hong Kong com o cartão de crédito dos pais, 228 amigos no Hi5 (e a contagem continua) do Texas ao Perú, 50 canais na TV em vez de dois, zap-zap, qual zip-zip qual quê.
Têm 17 anos em 2007 - e isso não é o mesmo que há 17 anos. "Um adolescente com um computador pessoal e um telemóvel era algo quase de ficção científica há duas décadas. Mas também a televisão com várias opções...", lembra Margarida Gaspar de Matos, psicóloga e investigadora da Faculdade de Motricidade Humana que coordenou um inquérito recente sobre a saúde dos adolescentes portugueses.
Um adolescente sem computador pessoal e sem telemóvel seria quase ficção científica hoje. (...) Ter 17 anos hoje é ter sido a primeira geração a crescer com a Internet. Geração net, geração arroba, geração My, You, I - os sites e gadgets dizem "eu", "meu", "tu" e não têm vergonha. Partilha as tuas músicas preferidas, os teus filmes favoritos, os teus heróis, a tua orientação sexual, o teu diário privado - queremos que saibas que és especial.
(...) Adeus, querido diário secreto, olá querido diário indiscreto - e vivo. "Comentamos os diários umas das outras. Se eu quiser saber como é a vida na América , tenho amigas no Texas, em Nova Iorque, em Southampton." (...) Não lhes peçam para fazer uma coisa quando eles podem fazer várias: ouvir música ou ter a TV ligada, trocar uma dúzia de frases no messenger sobre nada, deixar um comentário na página Hi5 de um amigo ("AkelaKamaOseuAmorzinhu says: lindu ninu...bjoka"), atender o telemóvel, ver o que o Google retribui numa pesquisa sobre Os Maias - tudo ao mesmo tempo. Um recente estudo americano revelou que quando os estudantes estão frente ao computador "a estudar" também estão a fazer outra coisa 65 por cento do tempo. (...) A tecnologia, nota Machado Pais [José Machado Pais, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa que já coordenou vários projectos sobre a juventude], tornou-se "um meio de afirmação de identidade e de transmissão de gostos pessoais: a sonoridade do toque do telemóvel, o tipo de música que passa no MP3, as performances exibidas nos fóruns do ciberespaço". (...) Muitos jovens vivem hoje ao abrigo de um verdadeiro sistema de protecção familiar - a welfare family", nota Machado Pais. "Economicamente dependentes dos pais, usufruem, porém, de autonomia existencial. Decoram o quarto a seu gosto, escolhem as suas roupas, decidem sobre os usos do tempo e sobre as companhias com quem andam."»
fonte: «17 anos, a melhor juventude... lol», Kathleen Gomes, Público/P2, 5/03/07, pág. 4-7
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