Televisão no iPod; rádio quê?
Transcrevo esta notícia de hoje do DN, com o respectivo comentário pessoal (parece-me que isto não é novo, mas, a mais, não se perde...):
«A NBC chegou a acordo com a Apple para a distribuição de programas de televisão nos iPods e computadores. A televisão deixa, assim, de ter a exclusividade de ser o único ecrã a disponibilizar conteúdos de todos os géneros.
Ao anunciar o acordo, Jeff Zucker, presidente da NBC Universal Television, previu "dentro de um ano, vão ver-nos em muito mais plataformas. Seja num telefone celular, num iPod ou num computador. Não nos importa o ecrã".
A Apple já tinha assinado um acordo semelhante em Agosto com a ABC e a NBC esperou mais de um mês pelo resultado da experiência para se decidir.
A primeira experiência mostrou que a multiplicação de plataformas é favorável aos programas de televisão. No caso da ABC, desde que o seu principal noticiário passou a poder ser visto nos iPods, aumentou a audiência do programa transmitido pela televisão. O mesmo aconteceu com séries como Desperate Housewives.
O preço de cada programa é de 1,99 dólares. As séries estão disponíveis um dia depois da transmissão habitual, os noticiários três horas e meia mais tarde.
O acordo agora assinado disponibiliza programas da NBC, SciFi e USA Network e também antigas séries de culto como Alfred Hitchcock apresenta e Dragnet.
Diz Zucker que a principal vantagem é praticamente acabar com a pirataria. Programas como Batllestar Gallactica do SciFi que, com 428 mil tentativas de pirataria por semana, está no primeiro lugar de procura pelo mercado negro, "passam a estar agora disponíveis legalmente".
Os programas são passados nos iPods sem publicidade, o que pode ser considerado uma desvantagem para os anunciantes. Steve Jobbs, presidente da Apple, diz não estar prevista a inclusão de publicidade, "porque não é esse o nosso negócio. Mas nunca digas nunca...".»
Comentário: O que é isto mexe com a rádio?
Desde logo deve ser tido em conta um hipotético desvio da atenção da rádio (do audio, genericamente) para a imagem, a partir do momento em que a televisão deixa de ser fixa e pode ser vista em movimento (até agora a televisão precisava de estar agarrada a uma ficha eléctrica e sempre que nos movíamos deixávamos de ter contacto com ela). O audio (em musica gravada ou via rádio) não sofria concorrência. Agora há, portanto, mais um elemento a competir.
Depois, sobretudo nas gerações mais jovens, há a questão dramática da perda de hábito. A partir do momento em que a rádio não converge com os novos produtos (não há receptores de FM nos iPods e em muitos telemóveis), e estes são agarrados pelas novas gerações, a rádio deixa de contar. Em contrapartida, a televisão converge e cria hábitos ainda mais fortes.
Isto significa o quê? Estamos a falar do tal segundo choque que marca a rádio do século XXI. E nesta altura só vejo uma saída: a rádio posicionar-se como meio secundário em absoluto, criando produtos para serem ouvidos enquanto se faz outra coisa - porque continuaremos todos a poder libertar a audição enquanto os olhos ou as mãos desempenham um tarefa primária. O futuro da rádio passará (também) por isto.
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