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Transistor kills the radio star?

5.1.1.1 O DAB em Portugal

O optimismo dos responsáveis das rádios portuguesas com o digital

«António Mendes(...), o director de programas da RFM, estação do grupo Renascença líder de audiências em Portugal, conclui que “a rádio está viva”. “Sente-se que há uma muito menor preocupação com aquilo que antes era percepcionado como ameaças (IPods e todas essas ferramentas) e uma forma mais inteligente de ver a coisa, que é “como é que a rádio pode integrar todas as novas tecnologias?'”, explica o responsável. Uma opinião igualmente partilhada por Nelson Ribeiro (...) diz o responsável da estação generalista, “o digital vem trazer novas oportunidades para a rádio e temos de aproveitá-las»(...) Pedro Ribeiro encara de forma positiva.(...) A rádio tem o enorme desafio de se adaptar ao mundo digital não tendo medo desse mundo digital, porque o meio rádio é o que tem mais a lucrar em termos de possibilidades de expansão e de diversificação de oferta para os ouvintes com a adopção do mundo online”, defende. (...)  Pedro Tojal(...) “Aqui [na NAB European Radio Conference] percebe-se que, ao contrário do que se passa em Portugal, a rádio não está a cair, mas sim a encontrar novos caminhos para evoluir”,(...) Nelson Cunha não hesita em colocar o digital no reino de oportunidade para o meio rádio. “É obviamente uma oportunidade para a rádio”, diz o director de programação da Mega FM, (...) “O digital é o futuro e a rádio tem de olhar para o digital muito mais como um aliado do que como um adversário. Se não o fizer perde a guerra, porque as coisas estão a evoluir nesse sentido quer na rádio, quer na televisão”, começa por dizer José Mariño,(...)»

fonte: O fim da rádio FM? Meios e Publicidade 19 de Novembro de 2007, por Ana Marcela

Informações sobre o DAB em Portugal

«Em Portugal o panorama não tem evoluído muito nos últimos anos. Foi dada à RDP a função de gestão da rede Nacional de DAB em Portugal tendo sido atribuída uma frequência nacional, no canal 12B de VHF, nos 225,648 MHz. Actualmente está coberta toda a zona litoral do país, emitindo os três canais da RDP, a rádio Renascença e RFM. Estas duas enviam o sinal para o centro de produção da RDP por linha X.21. O bit rate utilizado, para os canais da RDP são 196kb/s para a Antena 1 e Antena 3 e 224kb/s para a Antena 2, que transmite música clássica. Quanto a conteúdos multimédia ainda não houve experiências e dado o atraso na atribuição a Portugal das frequências da banda L para a emissão de estações locais, não se prevê para breve os primeiros testes

A legislação respectiva

O DAB e o DRM em Portugal

«(...) os custos da operação e o facto desse conceito obrigar à existência de um operador que controlaria o sistema e a quem os outros teriam de pagar, levou a que a ideia não colhesse muito sucesso por toda a Europa, incluindo Portugal. A Rádio Difusão Portuguesa, RDP, foi o operador eleito em concurso público em 1998, para gerir o DAB. Foram-lhe atribuídos seis canais - três para as três estações da RDP e outros três para os dois operadores privados com rede de cobertura nacional que são a Renascença e a Comercial. Mas os operadores privados nunca se mostraram interessados em aderir e a RDP é o único com DAB. Deveria entretanto ter arrancado um concurso para canais regionais mas nem chegou a ser lançado.
Há ainda a necessidade de ter um aparelho receptor apto a receber em DAB: "Em Portugal haverá por aí uma dúzia de pessoas com esses aparelhos. E há marcas que até já tiveram mas deixaram de fazer aparelhos DAB porque não vendiam", conta José Faustino. "O DAB arrisca-se a estar obsoleto antes da sua implantação", acrescenta. É aqui que entra o DRM. À semelhança do IBOC, o sistema de emissão de rádio digital terrestre usado nos Estados Unidos, o DRM permite uma passagem da actual rádio analógica para a digital de modo gradual, sem que para isso se tenha de enterrar o FM. "Prevejo que o DRM será mais rápido na passagem ao digital e terá maior adesão do que o DAB. Até poderão coexistir, apesar de eu achar que o DAB nunca se vai conseguir impor", conclui José Faustino.»

Ana, Machado, «Adeus DAB, olá DRM», Público, 20/2/06

O DAB não vai chegar a Portugal?

A posição do presidente da Associação Portuguesa de Radiodifusão (APR), José Faustino:

"Como sabemos a Europa adoptou o DAB que à excepção da Inglaterra não tem tido grande implantação, verificando-se até já alguma desactualização técnica, correndo o risco de já estar obsoleto antes de ser adoptado pela generalidade dos países europeus. Efectivamente, este sistema não tem colhido a aceitação do público, dos fabricantes de receptores nem dos radiodifusores.

Na minha opinião uma das fraquezas deste sistema é que utiliza uma tecnologia nova de multiplexagem que implica a existência de um operador de rede, perdendo os operadores a sua independência, no que respeita à distribuição do sinal.

Contrariamente, o sistema DRM, utilizado em ondas curtas e médias, tal como o IBOC [HD] é praticamente a digitalização do actual sistema analógico existente, permitindo até numa fase de transição a emissão simultânea de digital e analógico.
Para que qualquer sistema se imponha no mercado é necessário que o Estado, os operadores e a indústria convirjam nos seus interesses, ora com o sistema DAB tem sido difícil encontrar essa convergência.
O sistema é caro para os operadores, o Estado não tem dinheiro e não o quer financiar, a indústria não fabricará receptores baratos enquanto o publico não os consumir massivamente.
Outro dos problemas deste sistema é que não permite uma evolução gradual do actual sistema analógico para o novo digital.
Contrariamente, tanto o DRM como o IBOC permitem uma adaptação gradual, permitindo aos ouvintes, a pouco e pouco, uma mudança de receptores.
Infelizmente, actualmente na Europa, em FM, não temos alternativa ao DAB, mas o consórcio encarregado de desenvolver o DRM anunciou que dentro de dois anos (2008-?) apresentará uma norma de adaptação ao FM.
Só nessa altura passará a existir, na Europa, outra alternativa, estando eu convencido que então se iniciará gradualmente a passagem para o digital. Isto se as autoridades competentes aceitarem a continuação do uso das actuais frequências do FM. Mas mesmo que assim não seja, depois dessa fase da digitalização do FM será mais fácil a passagem para o DAB.
Resta referir que o, várias vezes anunciado, fecho do FM não tem qualquer data prevista para o nosso país, o que nos dá alguma tranquilidade.
De qualquer modo, e como ficou claro no seminário, o futuro da rádio será digital, só falta saber como e quando".
("O Futuro da Rádio Digital", Fax informativo, APR, 13 Fevereiro 2006 - n.º 427)
De acordo com Jorge Guimarães Silva: "Desde 1998 que Portugal usufrui de rádio digital. O sistema Digital Audio Broadcast (DAB) foi o escolhido, mas passados oito anos tudo continua na mesma: a única estação a transmitir em digital continua a ser a RDP e os ouvintes que a escutam em DAB não serão muitos, porque um receptor ainda é caro, e os mesmos programas podem ser escutados simultaneamente em Frequência Modulada (FM)".
Neste texto há um comentário interessante: "O problema [as queixas de alguns ouvintes na GB] não resulta da tecnologia DAB, mas antes do excesso de oferta por multiplex.
Se você tiver 600 Kbps e lá colocar 3 canais conseguirá um som fantástico. Agora, se funcionar com 40 e 50 Kbps para canais de música porque lá coloca 10 a 12 canais, é evidente que a qualidade chega quase a ser inferior ao FM. O DAB, creio, não tem os dias contados. A sua evolução é porém inevitável. O DVB-H ou o DMB serão o passo seguinte. Feitas as comparações, o DAB é um telemóvel da 1ª geração. O DVB-H será a 3ª geração. O DRM é igualmente possível, admitindo que permitirá mesmo a digitalização do FM, possível de vingar no futuro."
Sobre o debate que se realizou em Lisboa: "o DAB pretende digitalizar a emissão em FM, precisamente aquela que menos problemas de recepção oferece para os ouvintes. Então o que os levará a mudar ? Foi uma das questões levantadas no seminário. A excepção parece ser o Reino Unido, onde a popularização do DAB tem sido excepcional - segundo dados divulgados na apresentação feita por Miguel Henriques, da Anacom, só no último período natalício foram vendidos cerca de 400 mil receptores."