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Transistor kills the radio star?

O poder do ouvinte

Dir-se-á que quer na rádio musical, com os discos pedidos pelos ouvintes, quer na rádio de palavra, com os espaços de “phone-in”[1], foi dado poder aos ouvintes. Mas esse é um poder mitigado, na medida em que apenas pode ser exercido nas horas e, muitas vezes, nos termos decididos pelo planeador – com ou sem filtros, gravado ou directo, sujeito a tema prévio ou não. Além do mais, esses são conteúdos absolutamente minoritários no contexto da rádio global. Até a ideia de que são os ouvintes que fazem (que têm o poder para fazer) os sucessos musicais é posta em causa se constatarmos que primeiro é decidido o “airplay”[2] desses temas e que a construção de um “hit” dependerá muito da insistência com que essa música será ouvida (ou seja, que a popularidade não é o que parece à primeira vista).



[1] Não se convencionou uma expressão em Portugal, mas pelo pioneirismo da aposta, são muitas vezes conhecidos como fóruns (em relação ao da TSF)

[2] O número de passagens, a que horas

Em resumo, depois de limpas as «gorduras» (as características que não são identificadoras), rádio pressupõe uma única e irrepetível emissão (para todos) sonora (de voz e/ou música) em contínuo (portanto não manipulável)[1]. Noutra formulação, um rígido «agenda setting» sonoro definido claramente por um ou mais «gatekeepers». Uma definição claramente funcionalista? Sim, porque a rádio – mantendo o ouvinte passivo – tem sido, como a generalidade da comunicação social, funcionalista. Mas qualquer que seja a formulação, o que nos parece ser claro é que não há uma única característica que defina o meio, antes a conjugação destes três elementos.



[1] Uma definição não muito distante desta que se encontrou na Economist: «(...) from broadcasting, which means sending a radio signal to an entire population in a particular geographic area at a particular time», Heard on the Street, 20/04/06 (http://www.economist.com/surveys/displaystory.cfm?story_id=6794210)

Mesmo os que aparentemente consideraram a importância do receptor, como Lazarsfeld, mais não fizeram do que, a partir dos estudos de hábitos e escolhas, reforçar o poder do emissor (o «gatekeeper»), que – com essa informação – passou a controlar melhor os efeitos pretendidos (de alguma forma, o «agenda setting»). Daí que Lang (1979: 86) fale em «great ingenuity», quando se refere aos objectivos de Lazarsfeld no seu «Radio Research Project».

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