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Transistor kills the radio star?

Como será ouvir rádio daqui a 10 anos (ou 20)?

«How will people listen to the radio in 2015? That’s the question that a group of academics put to more than 40 media ‘experts’ in Canada, Denmark, Finland, Ireland and the UK.»

A resposta é uma incógnita absoluta, porque coexistem as mais diversas hipóteses.

- deixaremos de ouvir rádio hertzianamente ou a rádio hertziana, existindo, será apenas um complemento de um serviço global oferecido via internet?

- a rádio digitalizada conseguirá afirmar-se (DAB, HD ou outro sistema), mantendo a rádio como acto sincrónico (uma determinada programação pensada por alguém e destinada a muitos, sem possibilidade de alteração)?

- acabarão os receptores individualizados de rádio e ouviremos não atraves de receptores FM mas de telemoveis, consolas, mp3...  emissões streaming?

As respostas são uma incógnita na medida em que, mesmo tentando não olhar o presente pelo retrovisor, poderão aparecer novos desenvolvimentos tecnológicos que - pela suas características - irão condicionar tudo o resto, porque há movimentos e fenómenos (das diversas indústrias envolvidas) que não se conseguem controlar/antecipar, além de que cinco ou dez anos poderão ser muito ou pouco.

Mas há algumas coisas que parecem «certas»; sinais estruturais de desenvolvimento (e numa fase de grande incógnita/encruzilhada são essas a que nos devemos agarrar):

- a digitalização mudou dois paradigmas em que assentava a rádio convencional e nesse aspecto são duas novas ameaças: criou novos canais de acesso à música, deixando de ser a rádio o canal privilegiado, em muitos casos (para os jovens sem poder de compra, ou mais isolados dos grandes centros) único, de acesso a nova música; possibilitou o aparecimento de verdadeiras alternativas de escuta em acumulação, que antes pura e simplesmente se reduziam à rádio: podemos conduzir, correr ou estudar e ouvir, ao mesmo tempo, milhares de músicas, sem publicidade e a gosto, nos leitores de mp3/iPod. Como consequência imediata, e até porque são os mais atentos às novas tecnologias digitais, os jovens começaram a afastar-se da rádio;

-a digitalização é resultado da Internet e a Internet desenvolveu-se em tantas frentes que, numa delas, se constituiu como meio de comunicação social (como suporte alternativo aos meios convencionais); para se viabilizar precisa de publicidade e a publicidade é um bolo que antes era repartido pelos tais suportes convencionais. A partir do momento em que se constata o crescimento de interesse pela Internet (menos de 10 anos para atingir 50 milhões de utilizadores, contra os 15 anos da televisão, por exemplo), e que o bolo a distribuir não cresce, há desvio de receitas para a Internet. A rádio, como meio mais desvalorizado - o único a cujas audiências não corresponde um valor proporcional de publicidade -, foi o primeiro a sofrer. Sem as receitas habituais, viverá como a rádio?

- A internet/digitalização também significa uma oportunidade para a rádio - mas para que essa oportunidade se afirme a rádio terá de evoluir de tal maneira que deixará... de ser rádio. Será outra coisa qualquer, que ainda não tem nome, mas não será mais uma programação, pensada por poucos, e destinada a muitos, sem possibilidade de a personalizar.

PS - a resposta à pergunta dos especialistas do DRACE diz-nos que «by 2015 most Europeans would have digital terrestrial radio» e que «FM radio will continue to play a significant role in both Europe and Canada», e isto porque « This is attributed to the strengths of linear radio, including mobility, ease of access and localism, as well as powerful journalistic and artistic content». Não penso que assim vá ser. Para mim será mais «an increase in personalized and on-demand radio, with more listener sovereignty, personalization options and the gradual disappearance of schedules. Radio will be available when and where listeners want it»

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