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Transistor kills the radio star?

A tecnologia HD e a rádio de serviço público

A rádio de serviço público nos EUA tem características muito diferentes da europeia, nomeadamente da BBC – que funciona, no velho continente, como paradigma.

Não havendo rádios nacionais nos EUA, mas apenas estações associadas que podem “sindicar” algum programa, a NPR (o sistema de rádio de serviço público nos Estados Unidos, maioritariamente financiado pelos ouvintes, privado portanto, e sem lucros) possui em muitos dos principais mercados apenas uma rádio – que assim tem de se comportar em absoluto como generalista (ou seja, chegando a vários públicos ao longo de um mesmo dia ou semana).

O aparecimento de uma tecnologia que permite a criação, a partir da emissão original em FM ou AM, de novos canais digitais foi imediatamente apreendida pela NPR como algo muito importante.

No início de 2003 a NPR anunciou a sua adesão projecto de HD da iBiquity (antes designado IBOC, In-Band on Channel), criando o “Tomorrow Radio Project”.

 

2003 foi o ano dos primeiros testes do sistema multicanal (ou tecnologia “second audio”), que permite transmitir mais programação e conteúdos escritos a partir do actual espectro (essa tecnologia cria um sinal digital paralelo ao sinal analógico que as rádios hertzianas emitem), com qualidade muito próxima do actual CD, sem ser afectado pelas condições atmosféricas.

A NPR conseguiu a adesão, para este projecto, de empresas importantes, como a Kenwood, que fabricou receptores prontos a receber os novos canais digitais (com informações de trânsito, boletins de tempo ou cotações de bolsa, em texto, por exemplo, como a rádio por satélite). A HD exige novos receptores.

Nessa altura haverá milhares de estações de rádio nos EUA a emitir com HD e, para as mais de 700 estações de serviço público, será possível apresentar diversos formatos simultaneamente.

A NPR anunciou também um horizonte temporal de 10 anos para tornar todas as estações NPR a funcionar em HD, e esse é um prazo que cada empresa ou grupo de rádios terá de tomar por si próprio, uma vez que a autoridade federal das comunicações não definiu – nem definirá, pelo que se percebe – uma data para o switch off completo (ao contrário da TV), o que significa que nos próximos anos as rádios poderão continuar a utilizar as frequências analógicas actuais.

 

Uma citação do documento “NPR’s Tomorrow Radio Project”, 10/02/04, por Ralph Graves:

Os operadores comerciais vêem a qualidade de som da rádio digital e as características da PAD [«Program Associated Data», informações em texto] como uma forma de competir com a rádio por satélite. A NPR vê uma coisa diferente: como uma aplicação possível pra resolver um dos problemas mais insistentes da rádio pública. A emissão de rádio pública, globalmente, junta diversos e diferentes formatos (…). Cada género tem a sua audiência leal e em alguns casos com pouca sobreposição. Quando a sua rádio pública muda da “Morning Edition” para os “Midday Classics”, por exemplo, a audiência de notícias desliga e o público interessado em música clássica liga. As estações lutam por servir uma audiência diversa com apenas um sinal (…). Tomorrow Radio Project explorou a possibilidade de subdividir o sinal digital de 96kbps da IBOC em dois ou mais sinais viáveis de som, dando às estações a oportunidade de difundir diferentes formatos simultaneamente.

(…) De acordo com Mike Starling, vice-presidente da NPR para a área de engenharia e operações, nove dos 25 principais mercados de rádio nos EUA têm apenas uma estação afiliada na NPR. Muitos mercados pequenos são servidos apenas por uma rádio pública. Estas estações têm dificuldade em combinar os formatos que pretendem transmitir – sabendo que cada formato apenas serve uma fracção da sua potencial audiência total. Em muitos casos, não t~em horas suficientes para garantir adequadamente todos os tipos de programação que a sua audiência deseja. E uma vez que uma parte essencial do financiamento da rádio pública vem das contribuições dos ouvintes…”.

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